Sou caminhante nesta estrada que me conduz a lado nenhum ,que me mostra este cenário despido,impiedosamente espinhosa.Sou rara excepção neste teatro macabro,onde a realidade de estar viva se nota enquanto caminho.Em cada uma destas árvores vejo o meu corpo balançando num ramo,ao sabor do vento gelado,sem pena dos que ficam neste cenário penoso que não acaba nunca. Entranço a corda lentamente,como se de um ritual se tratasse,como se de um momento solene fosse merecedora,e nem a chuva,que me ensopa o que resta me incomoda mais.Nunca mais me incomodará,a chuva,companheira de tantas horas,de tantas dores...Entranço a corda,e canto alto uma canção.Calem-se,vozes,cala-te,minha Alma,que me ensurdeço de vossas palavras.Basta.Fecho os olhos,sem perder o ritmo,e a imagem do teu rosto ja não me faz chorar.Entranço a corda,finalmente quase acabada,e sorrio para ela com respeito.È só nosso,este momento,e quem me diria que seria só meu e desta corda,este último momento.Não contenho uma gargalhada,neste momento irónico,pois apenas este momento irónico despertou esta gargalhada,que não ouvia há tanto tempo...tanto tempo.E volto ao inicio da canção."Perdi a luz do teu viver,perdi o horizonte..." Entranço mais um pouco,e a corda ficou pronta.Noutro momento quase solene,caminho lentamente para junto da árvore.Olhei para o seu alto.Ao fim de tantos anos,pedi um desejo.Quando partir,quero voltar no sangue de um corvo.E chorei,senti-me perdida,sem saber se depois de partir,saberei para onde ir.
por Ayra |
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